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OLHAR PSICOLÓGICO SOBRE O CASO MATALANE




Antes de apresentar a minha análise sobre o caso das instruendas engravidadas por instrutores de Matalane, gostava de: 

(i) solidarizar-me com as vítimas, as respectivas famílias e os amigos pela difícil situação a que estão a ser expostos; 
(ii) solidarizar-me igualmente com os familiares e amigos de todos instrutores, pois, independentemente do envolvimento nesse escândalo, a irresponsabilidade de alguns afecta os demais; 
(iii) manifesto o meu apreço a todos que se têm empenhado na resolução do problema.


O QUE ESTARÁ A ACONTECER EM MATALANE?

O que está a acontecer em Matalane é um problema com mutações de acordo com o contexto. Este flagelo social manifesta-se nos transportes públicos, nas escolas primárias (entre professores, alunos e encarregados), escolas secundárias (entre professores e as adolescentes com maior incidência), centros de formação profissional, universidades, locais de prestação de serviços e mais. Mas hoje estamos diante do problema de Matalane e há necessidade de uma avaliação mais profunda além das gravidezes veiculadas na comunicação social.
São diversos os factores que podem estar associados a este problema: 

(i) a vontade dos instruendos de obter facilidades pode ser um dos motivos do envolvimento sexual entre instruendas e instrutores, pois existe a crença de que envolvendo-se sexualmente, podem lhes ser relaxadas algumas exigências no local; 
(ii) a história académica das instruendas, pois pode ocorrer que tenham conseguido passar de classe usando a mesma estratégia; 
(iii) a fragilidade/fraqueza das instruendas em se defenderem das investidas dos instrutores; 
(iv) a história de vida dos instrutores, pois podem ter presenciado experiencias desagradáveis durante a formação como agente de segurança pública/polícia; 
(v) a possibilidade de existirem transtornos de personalidade nos instrutores; 
(vi) a nossa cultura de obediência e inferiorização feminina diante dos homens; 
(vii) a fragilidade jurídica e a percepção da impunidade dos infratores;


QUE CONSEQUÊNCIAS ESPERAR DESTE PROBLEMA?

Acredito que as consequências estão manifestar-se na nossa sociedade, mas por vezes não conseguimos perceber devido ao desconhecimento que temos dos problemas associados, alguns dos quais refiro a seguir:
Nas vítimas e outros formandos, esse problema pode desencadear: 

(i) depressão e em casos graves tentativas de suicídio; 
(ii) problemas em dormir; 
(iii) dificuldades em estabelecerem relações sociais/românticos; 
(iv) conflitos familiares; 
(v) violência no seio comunitário; 
(vi) fraco desempenho académico e laboral; 
(vii) conflitos conjugais; 
(viii) descrença nas instituições de ensino; 
(ix) vergonha em assumirem a profissão e mais.

Nos familiares, amigos e a sociedade, estes podem desenvolver: 

(i) acentuada desvalorização dos agentes de segurança pública (policias); 
(ii) irmãos e filhos das vítimas poderão sofrer Bullying (violência entre colegas) na escola; 
(iii) dificuldades de fixarem suas residências no bairro Matalane e nas proximidades; 
(iv) desenvolvimento da homossexualidade feminina, por pensarem que homens são todos agressores; 
(v) algumas meninas poderão modelar/copiar o comportamento das instruendas e mais.
Na instituição (Matalane), podemos ter os seguintes problemas: 

(i) mudança de estratégias de actuação por parte dos instrutores; 
(ii) conflitos laborais entre os colaboradores; 
(iii) fraca adesão dos candidatos; 
(iv) frustração por parte dos instrutores inocentes; 
(v) vandalização dos arquivos para destruição das provas por parte dos instrutores visados; 
(vi) sensação de fraqueza/falta de capacidade administrativa por parte dos dirigentes; 
(vii) não cumprimento de algumas actividades, devido à realocação de fundos;


QUE LIÇÕES TIRAR DESTE EPISÓDIO?

Mesmo nos criando desconforto, temos que tirar algumas aprendizagens deste problema e eis algumas:

(i) a situação de Matalane pode ser muito mais grave do que pode imaginar; 
(ii) os instruendos são sujeitos a uma realidade desumana; 
(iii) alguns comportamentos estranhos dos agentes da polícia, resultam do período de instrução; 
(iv) a continuar com este cenário, a academia de Matalane pode transformar-se num centro de agressão juvenil; 
(v) está claro que a sociedade vai perdendo continuamente seus valores; 
(vi) o assédio sexual e consequentes gravidezes podem não ser da inteira responsabilidade dos instrutores. Os instruendos, a instituição e a sociedade podem ser responsáveis por este problema social e mais.


O QUE FAZER PARA MINIMIZAR E EVITAR ESTES PROBLEMAS?

É de louvar as iniciativas que vêm sendo anunciadas pelos órgãos de comunicação social e junto-me citando outras estratégias: 

(i) os instruendos, familiares, instrutores e outros funcionários da instituição, devem receber acompanhamento psicológico; 
(ii) há necessidade de realização de uma pesquisa de base para apurar as motivações de cada caso, pois universalizar pode penalizar mais/menos os envolvidos; 
(iii) há necessidade de um debate aberto numa perspectiva interdisciplinar, pois este é um problema social generalizado; 
(iv) a comunicação social deve mostrar o desfecho do problema e mais.

Da autoria de Etelvino Mutatisse.

Atenciosamente:
Jossias Mbocaze

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